sábado, 19 de outubro de 2019







Parque Nacional Sete Cidades. Estávamos exaustos. Loucos para tomarmos uma ducha no hotel depois de uma tarde exaustiva trilhando pelo parque, com um sol de 50 graus em sua cabeça. Paramos na sala da administração do parque, Elizete queria mostrar as obras de artistas locais na lojinha. Quer dizer, queria que eu comprasse algo deles, mas como eu estava cansado dessa forma protocolar de “moeda de troca”, entrei apenas para dizer “Nossa, que lindas essas obras, que trabalho perf...bom, o papo está ótimo mas precisamos de uma ducha e comer algo". Entramos na caminhonete e partimos. Pra ajudar, Jeovani se perdeu na trilha de acesso à saída do parque. Acho que foi castigo dos nossos antepassados ou dos sumérios por não termos comprado nenhuma lembrancinha.




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Na chegada à porta de saída do parque, o simpático vigilante pediu para eu preencher um questionário de avaliação. Enquanto brincava de jurado do Show de Calouros e dava minha nota, Jeovani estava preocupado com o que iríamos comer no jantar. Até porque, pelo que sabíamos, não tinha opção nenhuma, apenas a comida sofrível do hotel. Por sorte, o vigilante escutou nosso papo e indicou um restaurante super simples que, segundo ele, ficava praticamente de frente ao hotel. Ficamos curiosos pois não tínhamos percebido onde ficava o local. Terminada a avaliação, saímos em busca desse “oásis gastronômico” no meio do nada. E que foi tudo.



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                                  É UÓ!!!


O restaurante, na verdade, ficava em uma casa e era por isso que não tinha chamado a nossa atenção. Paramos por lá e avistamos a placa: Ponto do Bebeto. Jeovani chamou uma senhora que estava na varanda onde ficavam as mesas de atendimento. Na verdade, ele chamou a mulher de forma um pouco rude como se ela tivesse a obrigação de nos atender fora do restaurante. E o chamar dele foi já ir direto perguntar, sem nenhuma cordialidade “Ei, o restaurante vai ficar aberto pra janta?” A senhora, muito humilde foi chegando próximo ao veículo e aí eu já tomei as rédeas da conversa,  perguntando o seu nome e ela prontamente respondeu que se chamava Antônia. Combinamos de chegar às 19h para comermos uma boa comida caseira. Nos despedimos com um “até daqui a pouco”, atravessamos a estrada de terra e, ponto: já estávamos no hotel.

Assim que descemos do carro, Jeovani estava aguado para tomar um banho de piscina. Pediu licença para ir ao seu quarto e colocar uma sunga e se dirigiu à recepção pegar a chave do apartamento. Falei para ele ter cuidado em não ser mordido com a “Juma Marruá” do hotel (calma, eu te ajudo decifrar quem é a tal Juma. Siga a seta --->...Parque Nacional de Sete Cidades) . Fiquei tirando fotos, indo em direção à piscina para ler um pouco. PORÉM...



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...no meio do zoológico que estávamos instalados (o "zoológico", neste caso, é sob um aspecto positivo), vendo as aves rodopiando o céu, cheguei à piscina e percebi que o volume da água estava pela metade. Pensei: (risos) "Jeovani não vai gostar nada disso". Culpei a porra do Fagner, que ficamos escutando no caminho de volta ao hotel emanando aquelas canções de "fodas mal dadas", pra emanar uma energia ruim mesmo que Jeovani, by the way, colocou por pirraça. Para celebrar com uma champanhe na mão em dar a notícia, saí em direção ao seu quarto para avisá-lo, quando........ deparo com uma.......... cena dantesca, digna de filme de neo realismo italiano: avistei um imenso bolo fecal, de algum bicho pré histórico que devia estar perambulando e não quis passar despercebido, resolvendo dar sua "carimbada estelar". No ME-IO do hotel. Quer mais neo realismo italiano que isso? (risos). Era tão surreal que sequer me deu raiva no momento. Vendo aquele cenário grotesco, tive uma única certeza: era tudo culpa do Fagner, SIM.


                                         

domingo, 29 de setembro de 2019




Parque Nacional de Sete Cidades. Almoçamos rapidamente e partimos rumo ao Parque Nacional de Sete Cidades. Para nossa sorte, o hotel ficava bem próximo do local. No carro, comentamos sobre o atendente do hotel, que estava longe de ser civilizado. Só faltava ruminar. Lógico que tiramos sarro do distinto, fiquei me referindo a ele o tempo todo como o primo distante da Juma Marruá, do Pantanal. Ok, há pessoas que odeiam seres humanos e eu (risos) não tiro a razão, mas por que cargas d´água você decide trabalhar numa área onde você tem a obrigação sim, de tratar bem o ser humano ou hóspede ou o que seja? Eu querendo tirar o gosto da comida do hotel e Jeovani já vendo miragens e comentando que estava com uma vontade louca de comer uma “Panelada”; perguntei do que se tratava e ele descreveu que é uma comida típica cearense feita com tripa e miúdos de boi e de porco. Resumindo, um nojo só.  



O calor estava exorbitante, no momento que chegamos ao parque a sensação térmica estava batendo os 42 graus. Um ponto negativo no roteiro que estava fazendo, afinal de contas, era praticamente um suicídio querer andar na parte da tarde. Entramos no parque ao encontro de Janaína, que estava nos aguardando para a trilha. Fiquei feliz por uma mulher estar no roteiro para nos guiar.

Assim que chegamos no QG do parque, fomos apresentados à equipe de trabalho do parque e à Janaina, que já me fez sentar em frente a uma mesa e me explicar em forma resumida sobre a história do Parque de Sete Cidades. Terminada a aula, ela nos apresentou Elizete, nos informando que seríamos monitorados por ela. Perguntei se eram irmãs e Elizete já deu um “somos, sim, sou a mais nova”. Janaína soltou uma gargalhada e nos deixou à vontade para darmos início à expedição no parque. E pelas brotoejas em forma de jaca estampada na cara de Elizete, não tinha nenhuma dúvida que a mais velha era ela (risos).

A trilha mesclava entre caminhadas não muito extensas e a santa SW4 de Jeovani. Para melhorar, na maioria das trilhas para conhecermos as pinturas rupestres teríamos a proteção de árvores centenárias nos dando a tão abençoada sombra. No primeiro monumento do parque, uma obra de se admirar: a Pedra da Tartaruga.


                                


Era de se impressionar com tamanha grandiosidade essa obra esculpida há séculos pela natureza. Quando você tem o primeiro contato visual, acha que está numa pegadinha, levando a crer que em algum momento teve alguma intervenção humana. Fiquei admirado com tamanha perfeição dos detalhes que me levou a crer em alguma interação. Elizete nos levou em outro ângulo para contemplar a paisagem. Estado de queixo caído para fotos.





Passamos por uma pedra em formato de arco. Elizete nos contou que antes de passarmos pela pedra deveríamos fazer um voto de agradecimento e três pedidos. Sem me fazer de rogado, me lembrei de uma célebre frase da poderosa Odete Roitman, personagem insofismável da novela Vale Tudo e fiz meu agradecimento a Deus “por ter nascido colonizado nesse país triste que até Deus esqueceu” (risos). Fiz meus 3 pedidos, passei por debaixo do arco e seguimos para primeira pedra de pinturas rupestres.






                        

                                             

À medida que conhecíamos as pinturas e toda a história por trás delas, fiquei imaginando como naquela época, com tão pouco recurso, havia uma fonte inesgotável de criatividade para se comunicar. Que o diga os sumérios, com sua sabedoria ímpar na comunicação com outros povos. Se hoje temos nossa forma de se comunicar, devemos agradecer e muito a eles pela precursão de tudo. O mais curioso também foi ver, durante a trilha,  algumas pedras com formas que me remetiam a algum ser vivo conhecido. Mesmo com a sensação térmica a 48 graus e quilos e quilos de protetor solar, fiquei viajando nessas obras de arte esculpidas sabiamente e pacientemente pelo tempo. Ou será que já estava vendo miragens?


                   

                    

Assim que entramos na SW4, vimos no visor que a sensação térmica batia nos 50 graus. Realmente tive a sensação de estar numa chapa de padaria, sendo tostado feito bacon. O que nos deu força a continuar foi termos visto alguns mocós, bichos roedores parentes da cutia. Uma família até foi amigável em deixar a gente chegar perto para tirarmos fotos, geralmente são bichos muito ariscos.

            

Para completar o roteiro, Elizete nos levou a um olho d´água que infelizmente estava seco. Fiquei na expectativa porque com aquele calor queria muito poder evaporar ali mesmo. Desejei muito em ver alguma cobra, mas não tivemos sorte. Aproveitando a pauta, Elizete nos falou que sempre quando tem turista que morre de medo de cobra e está visitando o parque, elas acabam aparecendo. Exemplificou de uma mulher que ao ver uma na trilha, deu um ‘piti’ e ficou o tempo todo na van, xingando a tudo e a todos. Azar o dela, afinal o habitat é da bixana e não dela. Com minha energia se esvaindo e faminto, pra piorar, Jeovani pergunta a Elizete se a mulher era casada e a guia gentilmente respondeu que sim, para ele soltar a pérola mirabolante a la Praça é Nossa: “se ela é casada, por que ter medo de cobra se ela já viu uma?” Nesse momento olhei para o nada, inspirado na cara de quarta parede e gritei: “OLHA UMA IGUANA!” e ambos viraram procurando pelo bicho. Na verdade, foi uma tática para mudarmos de assunto; já estava com minha cota de escuta de piada sem graça de duplo sentido preenchida. Foi uma forma educada de dizer “Caguei”. 

                               



sábado, 28 de setembro de 2019




Ubajara (CE) – Parque Nacional Sete Cidades (PI). Acordei às 7h para tomar o café com tranquilidade, antes de pegar estrada, rumo ao Piauí. Saindo do meu quarto, a neblina pairava sobre toda a pousada, era como se adentrasse ao reino dos mortos. Ou ao Umbral (risos). Cheguei no refeitório, dei bom dia a um gato pingado que nem retribuiu a gentileza. O que se esperar de alguém que aprendeu em um curral a ter um “padrão” de educação.



Enquanto comia meu brioche, eis que surge de algum portal dimensional o tal gerente da pousada que não me lembrava o nome. Me deu bom dia e já engatou a pergunta “E aí, meu querido, vai levar quantos pacotinhos de chá”? Deus Pai, como ele era insistente. Quer dizer, se eu sou o gerente da pousada eu perguntaria se eu tinha gostado do quarto, da comida, do atendimento, mas ele estava obcecado com o maldito chá de amora.


Respirei calmamente avisando que iria levar menos do que ele tinha separado, pois não teria espaço para colocar nas duas mochilas que trouxe para minha estadia.  Insistiu para levar tudo, para testar meu nível de paciência. Pensando que detesto acordar cedo, e que minha taxa de mal humor é intensa, olhei calmamente para o senhor e disse:

“Querido, acho um equívoco sua insistência em querer me fazer engolir goela abaixo os chás que pelo jeito, é você quem produz, correto? No momento, meu questionamento é saber por que uma pousada tão bacana como essa cometer um deslize (achei muito dizer que ele cometeu  um faux pas, ele não iria entender) em não ter iogurte no café da manhã para comer uma granola com aveia. Não acha que isso deveria ser sua preocupação?” Pausa para o momento “Congela!” dele (risos).

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Sem deixar espaço para uma réplica, emendei que não era de bom tom ele como gerente ficar  se refestelando nas pessoas, induzindo elas a comprar um produto que ele produzia.  E pra finalizar, que iria levar apenas o necessário, que não era obrigado a levar nada e pela insistência deselegante dele levaria menos com o preço do desconto que tinha me dado pelo “pacote” todo sugerido por ele.  Sem delongas, continuei tomando pacificamente meu café. Ele entendeu o recado e se retirou.

Fiz o check out, já com minhas mochilas a postos na SW4. Jeovani já tinha adiantado tudo, para seguirmos viagem. A temperatura estava super agradável, em torno de 19 graus. Com essa brisa deliciosa, nos despedimos de todos e caímos na estrada, com as mochilas, com as boas lembranças do Parque de Ubajara e com os (risos) benditos chás.

Aproveitei a noite anterior para baixar alguns álbuns pelo spotfy para dar um clima a mais em nosso roteiro de viagem. A primeira sugestão foi certeira na viagem, combinando perfeitamente com o ar refrescante da serra.



No caminho, várias torres eólicas recheavam a paisagem em direção a divisa do Ceará com o Piauí. Havia um carro em nossa frente que dirigia muito devagar. Era um casal que, suponho eu, estavam discutindo, a mulher articulava muito com as mãos e o cara também. Avistamos logo à frente na estrada um estabelecimento que dizia “Pousada e Motel Tayo” (gargalhadas). O carro em nossa frente deu o sinal e entrou à direita. Era a primeira vez que via um local ter duas funções de “entretenimento”. Jeovani disse, naquele humor peculiar de duplo sentido,  que o cara iria comer um belo café da manhã. Mas com a baranga que tínhamos visto no carro, reforcei que era mais fácil ele ter uma indigestão. Mudança no setlist musical, no momento que víamos a junção da caatinga com o cerrado. Dávamos "Bye, bye, so long" ao Ceará e adentrávamos ao enigmático Piauí.



Assim que passamos a divisa e entramos no Piaui, a temperatura drasticamente mudou. Saimos de 19 graus para chegarmos no hotel, em Sete Cidades, a 34 graus. Assim que chegamos ao hotel aquela sensação de estar dentro de um Simba Safari, você via “monstros pré históricos” andando por todo local. Tive uma primeira impressão não muito boa de onde iria ficar, mas logo desencanei pois tinha visto a piscina e queria descansar um pouco, pegar um bronze, antes de caminhar pelo Parque, na parte da tarde. Aproveitei para ler um pouco, enquanto Jeovani me chamava para ver um teijú, aquele tipo de lagarto (mais parecido, para mim com um tiranossauros rex) com um rabo enorme, desfilando pelo hotel. Tirei uma bela foto dele.


Almoçamos no próprio hotel, por falta de opção. Um funcionário extremamente ogro e mal humorado anotou os nossos pedidos. Pedi um peixe com purê e legumes, mas o purê estava com a consistência pastosa. Com os personagens presentes e a fauna à vontade, pensei se estava em alguma cena de “A bruxa de Blair”. Comemos e nos preparamos para trilharmos o Parque de Sete Cidades.

terça-feira, 24 de setembro de 2019





                           



Gruta de Ubajara. Saindo da cachoeira, andamos aproximadamente mais uma hora até chegarmos à  Gruta de Ubajara. Escutava atentamente Helio sobre suas explicações da flora e da fauna do parque, torcendo para encontrar algum bicho silvestre. O máximo para me contentar foi escutar o barulho que os macacos faziam enquanto passávamos por uma área de “posse” deles, os macacos são muito territorialistas. Mesmo na concentração com as observações do guia delícia, não tinha como não tirar os olhos de seu derrière formoso. Sorte a dele  - ou será que minha? -  dele estar na frente e nem ter percebido minha cobiça.




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Já começava a dar ares de cansaço quando Helio me avisa que a gruta estava a 5 minutos de distância. Perguntei se os 5 minutos era pra valer e ele respondeu que sim. Emendei no papo quando fui conhecer a Chapada Diamantina e no primeiro dia de trilha o grupo em que estava caminhou uma subida bem íngreme para chegarmos na primeira vista de contemplação. Só que essa subida demorou muito. Durante a caminhada, uma vez ou outra alguém do grupo perguntava “Falta muito para chegar?” e o guia dizia naquela safadeza baiana “Ah, sim, é logo ali”. O logo ali durou a eternidade de quase duas horas para termos a bendita vista por cima da Chapada. Helio entendeu a minha desconfiança e no tempo certo ele sinalizou: “Chegamos”.


                         
A entrada para a gruta ficava próxima do bonde desativado. Realmente uma pena não funcionar, fiquei imaginando a vista panorâmica que se deve ter com a subida dele. Mas não quis chorar o leite derramado, segui Helio para entrada da gruta. Pausa para tomar uma água, contemplar o entorno e escutar as recomendações do guia delícia. Nas pedras de entrada da gruta, vários escritos feitos nas rochas desde os anos de 1950. Quando Helio perguntou se estava pronto, meu esfíncter gelou e meu sétimo sentido bixístico me deu o alerta: “sem dar pinta porque está com a prega do koo dura de medo, OKAY veado”?



Percebendo meu nervosismo,  Helio me tranquilizou: dentro da gruta havia sinalizações e luzes para auxílio em nossa longa caminhada. Quando eu indaguei mentalmente “Longa”? um alegre e purpurinado morcego passou com suas asas de veludo por mim. E cheio de deboche. Que falta faltou um Baygon para enfiar na cara do bixano.


À medida que descíamos, os morcegos se proliferavam e aparecia em grupos. Era como você ser recepcionado por todos os membros da Família Adams. Perguntei a Helio se estávamos longe do nosso destino final e o guia aproveitou o gancho para ter seu momento "quero chamar a atenção e ganhar um emmy de figurante", soltando a pérola: “Não vai demorar não. É LOGO ALI”.

                  
Íamos descendo lentamente, quando do nada surgiu um barulho ensudercedor e eu, na tranquilidade de um pseudosurtado, rapidamente perguntei “MEU DEUS, O QUE É ISSO?” Helio disse que estávamos descendo e numa área onde os morcegos costumam dormir. Tínhamos acordado os mamíferos e, assim como eu, eles ficam de péssimo humor quando alguém os acorda. Vendo minha cara de aborto, Helio me tranquilizou avisando que eles estavam putos, mas os gritos era para alertar que a luz que estávamos usando os incomodava. Eles não iriam voar em nossa direção.

O caminho foi se transformando em labirinto e aos poucos, fui sentindo uma pequena claustrofobia. Me concentrei na aula de arqueologia ou antropologia que Helio estava dando e  fiquei impressionado com “peças” que foram lapidadas por milhares de anos.  Verdadeiras obras de arte.

                     
Quando Helio me disse que estávamos chegando ao fim de nossa jornada, respirei mentalmente aliviado. Mas como (risos) tinha muito pelo que pagar pelos meus pecados, o guia lasanha guardou a melhor notícia – para ele – no final: “Teremos que passar de novo pelos morcegos”. Como queria ter alguma mulher bomba para explodir aqueles bichos. Foi passar de novo com as luzes das lanternas e aquela gritaria típica de lavadeira de rio. Um frisson só. Senti minhas mãos formigarem, achei que sofreria um AVC. O cagaço era tanto que não tinha sequer reparado que (risos) estava falando alto pra toda aquela morcegada escutar e meu guia também. 

Foi uma experiência incrível, principalmente por confrontar meus medos. Foram os 20 minutos mais intermináveis de minha vida. Na saída, pausa para recobrar “meus sais” e tomar uns 600 litros de água. Descemos por mais 40 minutos, contemplando as belas árvores que nos davam de presente uma sombra confortante nesse fim de trajeto. Ao fim da trilha, Jeovani já nos aguardava para nos levar de volta à pousada e eu querendo uma “rede preguiçosa pra deitar”. Mas me lebrei que não tinha rede na pousada. Estava ainda sob o efeito vertiginoso da gruta. O jeito foi me jogar nos braços de Gil na estrada e relaxar.
 




domingo, 22 de setembro de 2019





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Ubajara – Parque Nacional. O ar puro da serra cearense abriu bem o meu desvio do septo e recobrou um astral que não tinha há séculos. Pra se ter uma ideia, eu sequer fazia noção de qual dia da semana estávamos, além de São Paulo nem existir na paisagem da minha lembrança. E para meu bem-estar continuar de vento em polpa, não me contaminar com as notícias do dia a dia. O máximo que me permito é ficar de camarote vendo as pessoas se degladiarem por causa das notícias políticas, no Facebook da vida. Meu trabalho de limpeza astral estava só começando.



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Me encontrei com Jeovani às 7h para tomarmos café. Dois funcionários estavam no refeitório, um deles uma versão Pokemón evoluída do gerente chato que queria a todo custo nos vender o chá de amora. Mas ele não nos amolou, foi uma graça em ficar calado e só responder o necessário. Pedi ovos mexidos, enquanto me jogava na granola com iogurte. A flora intestinal agradece.

Jeovani só tomou uma xícara de leite sem nada a acrescentar. Comentei com ele que na noite anterior, antes de ir lanchar, tinha ido ao banheiro para urinar e assim que levantei o bidê...surprise! Uma nojenta perereca ali de estátua viva, me intimando com seu olhar sinistro e hipnotizante. Até porque eu (risos) fiquei uma estátua viva também. Fiquei arquitetando de que forma poderia fazer para empurrar essa anfíbia, mas ao primeiro movimento feito, a desgraçada já fez ares de que iria dar aquele mega salto ornamental em minha direção. Aí não me restou tomar uma drástica atitude: chamar o funcionário da pousada para retirar aquele bicho pré histórico dali. Enquanto mastigava meu misto quente, já na lanchonete, ele veio me avisar que já tinha tirado ela do banheiro. O pior é a humilhação de ver aquele senhor dando a informação, com a quina da boca disfarçando um riso maroto featuring querendo gargalhar horrores. Me perguntou se (risos) eu não gostava de perereca, e eu rapidamente retruquei: “E você tem alguma dúvida”? (risos). Perereca, pra mim, só no brejo.

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Hélio chegou pontualmente às 7h40 para darmos início à caminhada pelo Parque Nacional de Ubajara. Últimos ajustes com roupas leves, banho de protetor e pronto: bastou apenas 7 minutos de carro para chegarmos ao Parque. Assim que entramos, Helio nos levou ao primeiro mirante, com uma vista de saltar os olhos. Na verdade, foi uma estratégia para aguardarmos enquanto ele trocava de roupa. Foi meu primeiro estado de choque do bem com aquele visual impressionante. Jeovani e eu ficamos em êxtase com a paisagem do lugar.





Com Helio de roupa trocada, me chamou para entrarmos na mata. Iríamos fazer uma trilha de descida que duraria umas 4 horas. Jeovani iria nos esperar no ponto final de nossa caminhada e para isso, ele teria que descer pela estrada, para nos encontrar. Antes de iniciarmos, vi umas obras de artistas locais que me chamou a atenção. Parei para tirar algumas fotos. Na entrada da trilha, um banner com os protagonistas da região, os animais silvestres que vivem pelo parque. Fiquei surpreso com uma que me fez sentir representado pela fauna.

                 A bicharada – em todos os sentidos - agradece.




Pontapé inicial, entrada na mata com pé direito e a caminhada começando a trilhar. Helio sempre pontuando as características do Parque, os tipos de flora e fauna peculiar da região. Enquanto caminhávamos, me chamou a atenção alguns cipós abraçados a uma árvore e Helio me explicou que esse cipó é um tipo de hospedeiro, que “suga” toda a energia da árvore pela raiz, ganhando força para asfixiá-la até tombá-la. E ela já estava bem contorcida. Pois é, até na flora a gente tem que presenciar seres bem oportunistas. 







                                   







Aproveitei o gancho e perguntei a Helio o motivo do famoso bonde do parque não estar funcionando e a resposta me deixou mais perplexo do que eu já estava, quando me omitiram a informação de que ele estava interditado para reparos. Na verdade, o bonde está há 4 anos parado e o motivo é que, segundo ele, o parque é administrado pelo governo federal e o bonde é de responsabilidade do Estado e um fica jogando a responsa em cima do outro para manutenção do equipamento. Ele conta que isso afugentou muitos turistas que infelizmente vão ao parque por causa do bonde, apenas. Depois de contemplar belas paisagens em alguns mirantes colocados de forma estratégica para um respiro, chegamos na Cachoeira do Cafundó para refrescar a pele e a alma. O nome da cachoeira foi dado em homenagem ao povo indígena Cafundó, dizimado e extinto pela ganância humana. Pausa para recobrar a dignidade,  tirar mais fotos e me preparar para segunda parte da trilha: a entrada na Gruta de Ubajara.



                            
                                         Cachoeira do Cafundó

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

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Ubajara. Tive uma boa impressão da pousada onde ia me hospedar. Depois de uma eternidade na estrada, o momento era para apreciar o clima serrano. Estávamos famintos e nos dirigimos direto ao restaurante da pousada. Mal sentamos à mesa e apareceu do nada um senhor com uma jarra na mão, nos dando as boas vindas e já nos perguntando: “Gostariam de beber algo pra refrescar?” e de imediato respondemos que sim, achando que nos ofereceria um bom drink para bebericar. Vendo nossos semblantes em polvorosa, ele despejou o tal líquido da jarra em duas taças daquelas bem cafonas da linha Nadir Figueiredo e bradou: “Vcs vão adorar esse chá de amora”. E aí (risos) eu não entendi nada da empolgação do dileto senhor. Mal terminamos de tomar a primeira “dose”, ele nos serviu novamente sem nos perguntar se queríamos repetir o chá. “Esse chá é ótimo, bom para quem tem colesterol alto, diabete (sic), gastrite...”. Até fiquei animado, pois meu colesterol realmente está nas alturas. E ele continuou o texto: “remédio natural, tenho certeza que vão gostar. Inclusive, caso queiram, podem falar comigo pois estou vendendo”. Aí entendi a empolgação. Ele produz esse pó para vender. Match Point.

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Com a insistência dele, perguntei se ele poderia “mudar de canal” ou apertar a tecla “mute” porque o que eu queria naquele momento era tomar um drink e almoçar. Mesmo sem entender o que quis dizer, ele chamou Mauro, o garçom e nos deixou à vontade. Jeovani estava no pique de comer uma picanha, o que achei um pouco over, não costumo ficar comendo carne bovina quando viajo, mas pela insistência topei dividir com ele uma picanha argentina. Mauro anotou nosso pedido, além de pedir para ele caprichar na caipirinha. Ficamos de frente pra piscina, vendo alguns hóspedes e escutando no randômico da pousada uma delícia de artista. O bom gosto prosperava naquele momento.  




Almoçamos a picanha argentina com alguns acompanhamentos. A carne não estava no ponto que pedi e pra ajudar ainda mais, eles deixaram os pedaços de carne restantes para um 2º round, tostando na chapa. Resultado, a carne ficou bem passada demais. Parecia que o prato tinha sido feito por um aprendiz de programa de reality de culinária, deve ter se sentido pressionado pelo tempo para nos entregar uma comida abaixo da média. Jeovani comia com gosto, digno de um neo neanderthal. Almoçados, fomos fazer o check in. Estava cansado e queria descansar. Jeovani iria entrar em contato com Hélio, o guia que iria me acompanhar na trilha do Parque Nacional de Ubajara para conversarmos mais tarde sobre horário e tudo mais. Combinamos dele passar no fim de tarde. Aproveitei para desfazer as mochilas e escolher o modelito para a caminhada do dia seguinte.


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Fiquei assistindo a reprise da novela Por Amor. Estava me divertindo com as tiradas sarcásticas de Branca Letícia de Barros Mota, feita magistralmente pela Susana Vieira. A novela em si era insossa, me lembro quando passou pela primeira vez na década de 90 e ela demorou para engrenar. Manoel Carlos foi sábio em usar a ardilosidade de Branca para conseguir manter a atenção do público. Ele aproveitou a ocasião para destilar sua acidez através da personagem. Deixei Jeovani me gritar umas quatro vezes para sair do quarto e me apresentar  Helio. Uma graça de pessoa, me explicou como seria toda a trilha e me aconselhou a irmos bem cedo para aproveitarmos o sol da manhã. Tive uma sensação de segurança olhando para ele, enquanto ele me sabatinava a respeito da história do lugar. Fechamos nos encontrar 7h30 no dia seguinte e nos despedimos. E para o delírio da tentação carnal, além de sábio e simpático, Helio possuía um belo derrière. Jesus, me abane!

quarta-feira, 18 de setembro de 2019




Bica de Ipu. Enquanto Jeovani batucava suas mãos com o setlist musical, ia contemplando a vista na estrada num misto de perplexidade e alívio. A perplexidade pelo fato de estar em uma estrada federal cheia de buracos, depois de ter saído de uma cidade pobre e sem estrutura para receber turistas, já que a proposta do roteiro que fechei incluía visitar as chagas de São Francisco, em Canindé. Essas chagas foram presenciadas na real com a pobreza predominante do lugar. O alívio foi termos ficado pouco na cidade. Emendamos na conversa sobre a situação miserável das pessoas no Estado e Jeovani aproveitou o gancho para falar sobre suas dificuldades na vida. Fiquei na dúvida se mudava rapidamente de assunto, mas senti que ele queria muito falar a respeito. E depois que você escuta “Me sinto à vontade para falar sobre esse assunto contigo” fica difícil sair pela tangente. Seria deselegante de minha parte.




Jeovani começou sua história dizendo “Você sabe que eu literalmente sou um filho da puta”? Pausa mental de não saber o que fazer, apenas emendei um “Ok”, me arrependendo de ter dado abertura. Achei que seria um momento de alguma piada sem a mínima graça. Só para abrir um parentes, os cearenses se orgulham muito pela quantidade de humoristas que ganharam reconhecimento na mídia e que saíram da terrinha. Mas acho que esqueceram de avisá-los que, com exceção do grande Chico Anysio, o humor calcado nas piadas de duplo sentido e nas minorias transformadas em caricaturas horrendas não fazem graça nenhuma. É um autêntico humor de 25ª categoria.




Para minha sorte, Jeovani mudou seu tom, agora um pouco mais sério e contou que sua mãe era uma puta. Ele nasceu e acabou sendo criado em um cabaré na cidade de Santos, no litoral paulista. Aos 8 anos, como forma de sobrevivência para ajudar no orçamento, ia até a praia para pescar. O que me chamou a atenção foi a estratégia que ele utilizava para conseguir uma grana extra: assim que pescava o peixe, ele articulosamente enterrava sua pesca na areia. Voltava a pescar e quando conseguia outro peixe, ele analisava qual era o mais fresquinho (isso ele adquiriu com a ajuda dos caiçaras, que o ajudava nessa análise), trocava pelo outro já um pouco passado, enterrava o melhor, enquanto saía para vender e conseguir uns trocados para levar à sua mãe. E quando conseguia vender, também enterrava o dinheiro, como forma de segurança para não gastar e ninguém lhe roubar.  Infância para brincar e aflorar sua imaginação não existiu. Fiquei tocado com esse começo de história, mas o destino achou melhor dar um pause na “Vida como ela é”. Com a chegada à Bica de Ipu, saímos da SW4 para ganharmos fôlego e caminharmos até a pequena cascata. Foto para ilustrar e água para refrescar.




Continuamos nossa jornada até chegarmos em Ubajara. Já adentrando a serra, o clima mudou. Apesar do ainda intenso calor, você já sentia a brisa serrana entrar em seus poros. Passamos por Guaraciaba do Norte – porta de entrada dessa região e Ibiapina, onde passamos por um Centro de Lazer do Sesc. Uma peculiaridade nessas cidades é que as ruas são bem estreitas, com aquela sensação que você entrou numa casa de bonecas. Astral renovado, conversamos sobre as expectativas da trilha do Parque Nacional de Ubajara. Só paramos de tagarelar quando a voz robótica de boneca inflável do aplicativo informou que já tínhamos chegado em nosso destino, o Neblina Park Hotel. Hora de alongar o corpo, tomar um belo drink e se refrescar.